186. o animal mais fofo que eu já vi
I.Uma memória
Estamos em um momento propício para reverenciar e autorie não-binárie Judith Butler. Minha reverência neste texto será por um elemento estilístico: Butler ama encher parágrafos de perguntas retóricas. Começo então com minha própria pergunta: para quê continuar lembrando de uma noite de julho em que uma garota experiente em animalidade te chamou de cachorrinha fofa? Claramente foi algo não-trivial, você insiste nessa memória como seu próprio mito de criação. Você se deixa fundamentar pelo que a memória te diz, mesmo que não esteja muito claro o quê exatamente está sendo dito. Você tenta, todos os dias, ser a tal cachorrinha fofa. Talvez você não precise tentar.
II.Experiência do Dois
É conhecido por todas que garotas são capazes de gerar mundos, e isso não deveria ser motivo de vergonha alguma. Naquela noite de julho nós entramos em contato, e insisto aqui que o contato é a dissolução temporária dos limites que o tornaram possível em primeiro lugar. Entramos em contato para conhecer algo do lado de fora de nós mesmas, que inversamente revela algo de novo sobre o lado de dentro. Espero não ser insensível se disser que minha memória não é exatamente sobre a pessoa que eu conheci, mas sobre o grande Lado de Fora. Sabe, o lugar em que você vai passear. Como uma cachorrinha, talvez.